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Barueri, São Paulo, Brazil
Sou psicóloga e atendo no Centro Comercial de Alphaville - SP e pelo site da psicolink. Sou voluntária no projeto CineMaterna. Mais informaçoes clicar em "Contato".

terça-feira, 27 de março de 2012

A questão ética e profissional da sublocação para as clínicas de psicologia



De uns tempos para cá tem sido cada vez mais comum a sublocação de consultórios de psicologia. O que me parece preocupante é ver no Facebook que algumas clínicas anunciam a sublocação de salas. Mas ao que uma clínica de psicologia deve estar atenta ao sublocar seus consultórios?
Neste caso, a questão que me vem à cabeça é a responsabilidade técnica. Mesmo se uma clínica subloca a sala, deve o seu responsável técnico acompanhar os serviços prestados e zelar pelo cumprimento das disposições legais e éticas, pela qualidade dos serviços e pela guarda do material utilizado, adequação física e qualidade do ambiente de trabalho? Sim, pelo que posso depreender, a responsabilidade técnica não exclui o trabalho realizado na sala sublocada. Dessa maneira, não se trata apenas de “transmitir a terceiro em nova locação, no todo ou em parte, o imóvel de que se é locatário”, tal como é definido o verbete sublocação pelo dicionário Houaiss.
Por isso, o responsável técnico deve conhecer bem o trabalho realizado por todos os psicólogos que trabalham na mesma clínica. A impressão que tenho quando leio um anúncio de sublocação não é exatamente essa. O que me parece é que as clínicas de psicologia estão se tornando uma espécie de colcha de retalhos, um espaço dividido por vários psicólogos, mas desprovido de compromisso ético e profissional. Nada diferente do que ocorre com os psicólogos como classe.
Na minha opinião, não é algo que depende tanto de fiscalização, mas de orientação. A necessidade de sobreviver na psicologia é maior que tudo e gera esse tipo de distorção nas relações entre profissionais. Não sei o que os CRPs pensam a respeito disso, mas estou seguro que a palavra sublocação de forma alguma reflete o contrato ético e profissional que uma clínica deve ter com os seus profissionais. Assim como cabe aos CRPs orientar os responsáveis técnicos, cabe ao responsável técnico orientar os psicólogos da clínica onde trabalha.
É um desejo íntimo do dono da clínica não se responsabilizar pela conduta do psicólogo que lhe presta serviços, mas isso (in)felizmente não é possível. Não há como fugir. Tanto o dono da clínica como o responsável técnico devem estar cientes do que se passa no domínio da empresa. Esse conforto existe apenas no terreno das ilusões. Ter uma clínica com vários profissionais é algo difícil sobretudo pela gestão de egos. O psicólogo clínico, embora viva de se relacionar com pessoas, tem uma natureza misantropa e muitas vezes não sabe trabalhar em equipe, tampouco com alguém que lhe dê orientações.
Será que não é hora de começar a cuidar dessa questão? Se houver um compromisso mais estreito entre psicólogos no espaço de uma clínica, certamente sentiremos os efeitos positivos disso em dimensões cada vez maiores. Precisamos pensar numa palavra melhor que sublocação para combater a crescente fragmentação que avança vorazmente contra o grupo de psicólogos clínicos.
Por Vladimir M.
Publicado no blog: Kanzler Melo Psicologia

terça-feira, 13 de março de 2012

Sobre a Assertividade e as Habilidades Sociais

O texto abaixo é do autor Sérgio Hübner, pessoa maravilhosa, mestre encantador.
Foi meu mestre, eu tive o prazer, honra e orgulho de ter estudado com ele por um ano.

ENCONTRO MARCADO

COM SÉRGIO HÜBNER

Sobre a assertividade e as habilidades sociais

"Eu vejo um novo começo de era,
de gente fina elegante e sincera,
com habilidade
de dizer mais sim do que não"
(Lulu Santos)

Vivemos a vida toda em grupos. No trabalho, na escola, na família. A vida toda. A nossa é uma espécie de animais gregários que se humanizou a partir da conservação de uma família primordial, do prazer e necessidade da proximidade física. Como primatas bípedes, vivemos imersos na linguagem e constituímos culturas. E, recursivamente, somos constituídos pelas culturas e pela linguagem em que vivemos imersos. Nesse jogo de sermos simultaneamente indivíduos e parte das culturas, vivemos nossas vidas e nossas angústias.

A ideia de indivíduo é relativamente recente (fim do séc. XIX) e é um dos diferenciais entre as culturas orientais e as ocidentais. Carregamos no nosso sobrenome as regiões ou cidades ou ofícios de nossos antepassados. Em muitas culturas, o nome da família antecede o nome pessoal. Em outras, a afiliação está evidente ("x" júnior, fulano II, sicrano filho de Joãozinho da venda). Somos parte de fluxos dos quais, continuamente, nos diferenciamos. Isso dura a vida toda. Mesmo quando mudamos radicalmente com o amadurecimento e as escolhas que fazemos, a cultura em que fomos criados (o contexto familiar) continua sendo a primeira referência:

“Itabira é apenas uma fotografia pendurada na parede, mas como dói!" (Drummond)

No entanto, parece que não aprendemos ainda a conviver com o outro, com a diversidade. Confundimos conversar com convencer, diferente com oposto, diversidade com adversidade, autonomia com isolamento. Quando somos donos da verdade não há conversas, há exigências. Acreditamos firmemente que, nas relações entre pessoas, dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço. Mas, na convivência, não é o espaço que compartilhamos. O espaço é sucessivo. Trata-se de coabitar no tempo , que é simultâneo. A minha experiência se constitui ao mesmo tempo que a sua. Daí o conviver, o considerar (etimologicamente: olhar o mesmo céu, ver as coisas desde o mesmo ponto de vista), o conversar (que significa "passear junto"). Parece que a maior ameaça à continuidade da vida humana na Terra é a intolerância frente a formas diferentes de significarmos a existência.

Existe uma estratégia que visa facilitar mudanças nos comportamentos disfuncionais que se chama "treinamento de habilidades sociais". Dentre tais habilidades, que são atitudes que nos ajudam a evitar situações de risco no cotidiano, destaca-se o comportamento assertivo. Ser assertivo é construir e manter uma atitude em que afirmo de forma clara, firme e persistente, que o que eu percebo do mundo- e o que sinto a respeito- são construtos válidos. Estão aí incluídos os pensamentos, as emoções e as atitudes. À assertividade se contrapõem os comportamentos muito mais comuns da agressividade, da passividade e da manipulação.

Transformações são o cerne das psicoterapias. Psicoterapia é uma conversação entre duas ou mais pessoas em que buscamos formas de viver melhor. Só isso. Buscamos transformações para sermos mais hábeis no viver. Um psicoterapeuta antigo, de quem ainda gosto muito (Fritz Perls) escreveu um poema famoso, uma "oração da psicoterapia", em que fala assim:

"Eu sou eu, você é você.
Eu faço minhas coisas, você faz as suas.
Eu sou eu, você é você.
Eu não estou nesse mundo para viver de acordo com suas expectativas.
Nem você está nesse mundo para viver de acordo com as minhas.
Eu sou eu, você é você.
Se a gente se encontrar, pode ser maravilhoso.
Se não, não há nada que possamos fazer a esse respeito."
(Fritz Perls).

Este é um poema sobre a assertividade e a pluralidade da experiência de estarmos vivos.

Dentre as estratégias ou estilos de comunicação, a assertividade é a única que promove intimidade e diferenciação: proximidade sem mistura. Sinergia e continuidade. Por exemplo, imaginemos a seguinte situação: eu gosto de jiló, você de quindim. O mundo não se divide entre os que gostam de jiló e os que gostam de quindim. Eu quero comer jiló. É seu direito gostar de quindim e escolher. Por favor, não misture quindim no meu jiló. Não preciso rosnar nem morder para validar meu gosto. Nem vou sair por aí falando "coisas" dos que gostam de quindim.

Uma pessoa com estilo agressivo provavelmente falaria:- "Nada a ver! Imagina, gostar de quindim, só você mesmo!". Uma outra pessoa, com estilo passivo, poderia falar:-"Ai meus deuses! tem jiló e tem quindim! Que será que ele quer que eu queira, para eu querer?" Alguém habituado à estratégia de manipular (que é uma mistura paralisante entre o agressivo e o passivo) talvez dissesse: "Olha aí! de novo! Você sempre escolhe jiló, como espera que eu aproveite meu quindim, se você vem com seu jiló?"

A assertividade agrega pessoas em vez de excluí-las. Favorece a experiência da pluralidade no mundo. Ao afirmar o meu direito de dar sentido à vida do meu jeito, ao mesmo tempo em que respeito o seu, passo a experienciar o contexto engrandecedor da alteridade, da pluralidade, do multiverso. E o que é o amor senão a experiência de viver mundos simultâneos?

Os poetas chegam primeiro no futuro, antevêem contextos e sentidos que para a maioria ainda não se mostram. São de Fernando Pessoa e de Chacal, respectivamente, as ideias que fecham este texto:

“Sê plural, como a vida”.
(Fernando Pessoa)

“A vida é curta para ser pequena”.
(Chacal)

Sérgio Hübner
Médico, Psicoterapeuta
Instituto Sistemas Humanos
Fevereiro 2012

Psicolink no Diário de SP

Ola caros,
Hoje, 13 de março de 2012 na pagina 22 do Diário de SP saiu uma matéria sobre o Psicolink verifiquem através do link Diario de SP
A matéria está bem interessante, tem depoimento de um cliente e também o passo a passo como se cadastrar no site do Psicolink e para quem este serviço de orientação psicológica é indicado.
Não percam, leiam e se ainda tiverem dúvidas, sintam a vontade de perguntarem, estou a disposição.

terça-feira, 6 de março de 2012

Não cabe cura para quem não está doente

Abaixo segue o parecer do CRP sobre a visão de deputados para os psicólogos "curarem" homossexuais, a minha opinião é a mesma do conselho, pois acho um absurdo a proposta dos nobres deputados. Não podemos aceitar tamanha atrocidade.

"Deputados evangélicos ferem a autonomia do Conselho Federal de Psicologia ao tentar permitir que psicólogos proponham tratar e curar homossexuais
O Conselho Federal de Psicologia (CFP), assim como os conselhos regionais, é uma autarquia de direito público, com os objetivos de orientar, fiscalizar e disciplinar a profissão de psicólogo, zelar pela fiel observância dos princípios éticos e contribuir para a prestação de serviços à população.
Cumprindo as suas atribuições, o CFP, por meio da resolução 01/99, regulamenta a atuação dos psicó logos com relação à questão da orientação sexual.
Considerando que as homossexualidades não constituem doença, distúrbio ou perversão (compreensão similar à da Organização Mundial da Saúde, da Associação Americana de Psiquiatria e do Conselho Federal de Medicina), a resolução proíbe que o psicólogo proponha seu tratamento e cura.
Entretanto, em nenhum momento fica proibido o atendimento psicológico à homossexuais, como afirmado pelo deputado João Campos (PSDB-GO), líder da Frente Parlamentar Evangélica no Congresso Nacional, que propõe um projeto que pretende sustar dois artigos da citada resolução.
Isso fere a autonomia do CFP como órgão que fiscaliza e orienta o exercício da psicologia e contraria as conquistas no campo dos direitos sexuais e reprodutivos, consolidados nacional e internacionalmente.
A iniciativa do CFP foi pioneira e, na época, o Brasil passou a ser o único país no mundo com uma resolução desta natureza. Por isso, o conselho recebeu dois prêmios de direitos humanos.
Vale ressaltar que, a partir da resolução brasileira, a Associação Americana de Psicologia formou um grupo específico para elaborar documentos de referência para norte-americanos e canadenses, reafirmando posteriormente a inexistência de evidências a respeito da possibilidade de se alterar orientações sexuais por meio de psicoterapia.
A discussão sobre a patologização da homossexualidade é comumente atravessada por questões religiosas, já que certas práticas sexuais são vistas também como imorais e contrárias a determinadas crenças.
Entretanto, há que se reafirmar a laicidade da psicologia, bem como de nosso Estado. Isso significa que crenças religiosas -que dizem respeito à esfera privada das pessoas- não podem interferir no exercício profissional dos psicólogos, nem na política brasileira.
Nesse sentido, ao associar o atendimento à pretensa cura de algo que não é doença, entende-se que o psicólogo contribui para o fomento de preconceitos e para a exclusão de uma parcela significativa de nossa população.
Considerando que a experiência homossexual pode causar algum sofrimento psíquico, o psicólogo deve reconhecer que ele é decorrente, sobretudo, do preconceito e da discriminação com aqueles cujas práticas sexuais diferem da norma estabelecida socioculturalmente.
O atendimento psicológico, portanto, deve, em vez de propor a "cura", explorar possibilidades que permitam ao usuário acessar a realidade da sua orientação sexual, a fim de refletir sobre os efeitos de sua condição e de suas escolhas, para que possa viver sua sexualidade de maneira satisfatória e digna."
CARLA BIANCHA ANGELUCCI, 37, é presidente do Conselho Regional de Psicologia de São Paulo
HUMBERTO VERONA, 55, é presidente do Conselho Federal de Psicologia