Aparentemente a geofagia - o ato de comer terra, já existe há séculos, com relatos datados de 1800
a.C. na Suméria, no Egito e na China. Há 2.000 anos, existiam “cápsulas de
saúde” feitas de terra, que eram vendidas nos mercados gregos e que supostamente
teriam propriedades medicinais. Mas que propriedades seriam essas?
Existem duas hipóteses que tentam explicar a ingestão de terra. Uma delas
sugere que ela seria uma fonte multivitamínica, contendo diversos sais minerais
incluindo cálcio, ferro e zinco. Essa ideia recebeu apoio após a constatação de
que o tipo de terra consumido em diversas regiões onde a geofagia é comum possui
minerais suficientes para suplementar uma eventual dieta não-balanceada.
No entanto, dados sobre a quantidade de minérios nas amostras de terra não
levam em consideração o que se passa no bolo alimentar, dentro do organismo. Ao
contrário, quando a terra se mistura a sucos gástricos intestinais, em condições
que simulam o ambiente do estômago, os sais minerais não são eliminados, mas se
mantêm ligados à terra, que inclusive atrai minerais do meio.
Como consequência, os níveis de sais no organismo acabam ficando menores
ainda. Aparentemente, nós não conseguimos assimilar nutrientes da terra da mesma
forma que as plantas fazem. Péssima noticia para a hipótese nutricionista.
Se isso for verdade, é possível que ingerir terra cause má nutrição e não
auxilie na dieta. Em apoio a essa ideia, existe um experimento feito com uma
população iraniana que consome terra diariamente e que tem a maturação sexual
retardada. Ao incluir zinco na dieta, os indivíduos conseguiram atingir a maturação
sexual e perderam o desejo de consumir terra. Aparentemente, o desejo bizarro
pode ter sido originado pela deficiência de zinco, que também afeta o paladar.
Sem o paladar, o consumo de terra passa a ser mais agradável, e a deficiência de
zinco tende a aumentar, fechando o ciclo. Estranho, mas plausível. Mas experimentos semelhantes com crianças anémicas e geofágicas da Zâmbia não
deram o mesmo resultado. Mesmo com o aumento de zinco na dieta, essas não
largaram mão de comer terra, enfraquecendo a proposta anterior.
Outros estudos apontam para uma função desetoxicante. A terra funcionaria
como um imã, que atrairia resíduos tóxicos no intestino, resultantes da nossa
alimentação. Isso poderia explicar porque o desejo de comer terra é mais
frequente em pacientes em hemodiálise, crianças e mulheres grávidas, grupos mais
suscetíveis a toxinas. Talvez isso explique também porque alguns remédios usados
para tratamento de casos de contaminação por comida estragada contenham
ingredientes similares à argila em sua composição.
Mesmo com todos esses estudos, ainda não existe uma explicação satisfatória
para o fato de comermos terra. Esse é o tipo de questão biológica que parece bem
simples, mas na verdade é extremamente complexa, pois envolve diferentes áreas
do conhecimento, como a bioquímica, geologia, epidemiologia e sociologia.
Enquanto não encontramos uma resposta cientificamente satisfatória, vale identificar o significado que tem para cada um e o que causa a vontade de comer, como está o momento do ser, o que dispara essa vontade. Um bom tratamento psicoterapeutico poderá ajudar a se conhecer melhor e identificar esses momentos que muitas vezes podem trazer confusão ao sentir. Lembrando que a sindrome do PICA - desejo de comer substâncias não nutritivas, não há concordância a respeito de sua etiologia, no entanto admite-se a influência de fatores sociais, culturais, psicológicos, biológicos e comportamentais.
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